O assunto do foco
e da atenção vem sendo objeto de estudos tanto da Psicologia como da
Neurociência Cognitiva, dentre outras disciplinas (LIMA, 2005). Os
mecanismos responsáveis pelo controle da atenção possibilitam a
interação do indivíduo com o meio ao seu redor de forma organizada,
voluntária e involuntária. Tais mecanismos têm relação direta com os
processos de ensino e aprendizagem uma vez que estes solicitam certos
níveis de atenção para que os estudantes alcancem seus objetivos.
Segundo Ferraz (2005 citando JAMES, 1890, p. 375), a atenção pode ser entendida conforme a citação abaixo:
“Todos sabem o que é a atenção. É a ação
de tomar posse realizada pelo espírito, de forma clara e vívida, de um
entre outros vários objetos ou séries de pensamentos simultaneamente
possíveis. Focalização, concentração da consciência são sua essência.
Implica o afastamento de algumas coisas para ocupar-se efetivamente de
outras, e é em condição que tem seu contrário real no estado confuso,
ofuscado e desregrado, que em francês se chama distraction e em alemão Zerstreutheit.”
A partir da citação acima, observa-se que o ato de concentrar a atenção em algo, focar, requer a ação de realizar “o afastamento de algumas coisas para ocupar-se efetivamente de outras”,
assim como as pessoas fazem quando querem estudar e se isolam em um
quarto fechado, querem namorar e vão para um lugar reservado e
aconchegante, querem trabalhar seu lado espiritual e buscam um ambiente
propício para isso, querem crescer na vida e melhorar seus rendimentos
financeiros e buscam cursos e livros a respeito, dentre inúmeros outros
exemplos. Todas estas situações servem ao princípio de selecionar os
estímulos e informações que se deseja, afastar-se de fontes de
distrações externas e concentrar a atenção, manter o foco em algo em
especial, algo que realmente seja desejado, a fim de se obter um melhor
resultado.
Quando se fala em “selecionar o que se
deseja” entende-se uma ação de filtragem de estímulos e informações que
serão ou não percebidas pelos nossos sentidos. Essa função de selecionar
o que a pessoa notará ou não conscientemente, compete a estrutura
cerebral conhecida como Sistema de Ativação Reticular
(SAR), que atua como uma espécie de filtro que só nos permite perceber
as informações e estímulos que estão no foco da nossa atenção, que são
importantes para o nosso intuito. Essa estrutura também atua como um
potencializador que amplia, amplifica a nossa percepção para tudo aquilo
que está relacionado com o objeto do nosso desejo principal ou foco de
atenção, orientando o nosso comportamento e evidenciando a importância
de se manter em mente bons estímulos e influências positivas (LIMA,
2005; ROBBINS, 1993).
Um exemplo clássico da atuação do SAR é
aquele de quando uma pessoa, por exemplo, compra um carro ou apenas
começa a desejar muito adquiri-lo e como que num passe de mágica, de
repente começa a ver pessoas e mais pessoas passando com aquele veículo
da mesma forma, cores e detalhes que ela também deseja. Será mesmo que
de uma hora pra outra aquele veículo entrou para a moda e todas as pessoas
deram um jeito de comprá-lo ou será que a mudança ocorreu na sua forma
de ver as coisas ao seu redor?
A resposta está na segunda opção. Foi o
foco de atenção, a percepção do indivíduo que se alterou quando o mesmo
começou a desejar aquele objeto em particular e então atribuiu maior
importância ao mesmo. Neste momento, o SAR recebeu a mensagem de que
deveria selecionar predominantemente as informações referentes aquele
objeto e relegar a um segundo plano tudo que não se relacionasse com o
mesmo, ou pudesse de alguma forma contribuir positivamente para sua
conquista. Ou seja, o objeto agora em foco sempre esteve lá, as pessoas
sempre passavam pelo indivíduo com ele, mas como não era importante,
como não estava no foco, a pessoa simplesmente não os via.
Para o processo de Coaching e o de
ensino e aprendizagem no geral é especialmente importante compreender
tais mecanismos descritos acima, porque muitas vezes todo um processo
educativo pode ficar comprometido simplesmente porque o aprendiz não
levou em conta a importância de ter um foco definido e de concentrar sua
atenção nele, ou então porque o ambiente não proporcionou ao mesmo a
desejada filtragem de estímulos e informações que poderiam favorecê-lo
em seu desenvolvimento.
Entende-se então com isso, que não só
para o processo de Coaching, mas para tudo na vida, aquilo em que
concentramos a nossa atenção e o nosso foco se fará mais presente em
nosso dia-a-dia, influenciando diretamente nas nossas possibilidades de
ação e comportamento. Uma pessoa que direciona seu foco para
acontecimentos ruins, por exemplo, estará levando seu SAR a ampliar sua
percepção para este tipo de ocorrência e influenciando a pessoa a ver o
mundo ao seu redor de uma forma negativa.
Da mesma forma, seu crescimento pessoal
também está sob igual influencia e relação, de modo que a medida que
esta pessoa direcionar predominantemente seu foco de atenção para as fontes de
estímulos, informações, orientações, estratégias, pessoas, atividades,
coisas e fatos que possam contribuir positivamente
para o seu crescimento e desenvolvimento, mais recursos e oportunidades
começarão a ser notados por essa pessoa, ampliando suas possibilidades
de escolha e podendo acelerar seu processo de crescimento como um todo.
“Aquilo que prende a atenção determina a ação.”
William James
Autor:
Professor Leandro Marcelino de Lima, extraído de sua monografia de graduação intitulada: Coaching – Construindo um modelo mental de sucesso: A Educação Física em prol do Desenvolvimento do Potencial Humano (março/2011). Instituto de Educação Física e Desportos (IEFD) / Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Referências bibliográficas
LIMA, Ricardo Franco de. Compreendendo os mecanismos atencionais. Ciências e Cognição. Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, SP, Brasil. v. 06; p. 113-122. 2005. Disponível em: http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v06/m24554.pdf. Acessado em: 11/03/2011.
FERRAZ, Gustavo Cruz. Consciência e atenção: Algumas considerações acerca das abordagens de William James e Aron Gurwitsch.
2005. 110 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Psicologia / Programa de
Pós-Graduação em Psicologia, 2005. Disponível em: http://teses.ufrj.br/ip_m/gustavocruzferraz.pdf. Acessado em: 11/03/2011.
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